O Paradoxo do Aniversário

02/12/2017 Gritos do Nada

É seu dia, mas também de milhares de outras pessoas aleatórias.

Você já sobreviveu a vários outros dias “seus”.
O que torna cada um deles novamente especial e te dá o direito de chama-los de seus?


Sua existência.
Na forma mais pura e clichê do existir.

Ouso tomar as palavras de um gênio atemporal pra dizer de forma menos poética que, entre tantas épocas, é uma honra e felicidade imensa compartilhar esse tempo e espaço com você neste Universo.

Universo esse que poderia ter abrigado sua existência no surgimento da vida humana.

Você poderia ter sido uma bactéria que daria origem a algo muito mais grandioso.
Mas você tinha a missão de infectar minha vida com todo amor que eu poderia sentir. E a vida de todos que o admiram com sua inquietude e criticidade.

Você poderia ter sido o cara que aprendeu a polir uma pedra pela primeira vez.
Mas não seria meu Australopithecus do século XXI.

Você poderia ter sido o mais bravo entre os 300 de Sparta. Poderia ter substituído o próprio Leônidas. Nem Alexandre Magno poderia com você.
Mas você precisaria reinar meu coração em outros tempos.

Você poderia ter sido um dos mais boêmios Renascentistas.
Mas quem daria cores à essa obra de arte que vivemos todos os dias?

Você poderia ter sido um dos maiores mestres do escárnio, dividindo tabernas com seu mentor Gregório.
Mas meu mundo precisaria de suas poesias. E de uma dose diária de seu maldizer.

Você poderia ter derrubado a Bastilha e levado monarcas à guilhotina.
Mas precisaria discutir a luta de classes e criticar burgueses em uma mesa de bar comigo.

Você poderia ter acabado com seu fígado nos loucos anos 20, dentro de um terno com uma gravata borboleta aquecendo sua garganta, morada de uma voz que transmite sabedoria e paixão.
Mas precisaria vestir um jeans com camiseta surrados e um all star moído pra me fazer companhia em caminhadas intermináveis.

Você poderia ter dançado ao som de Elvis em discotecas coloridas.
Mas quem compraria um LP dos sucessos do Rei pra ouvir comigo?

Você poderia ter enfrentado a repressão da Ditadura e composto canções de liberdade.
Mas quem lecionaria sobre Democracia de forma tão apaixonante para essa juventude perdida?

Você poderia subir em uma moto e atravessar o Brasil sentindo o vento na estrada.
E você pode. Fez. Vai fazer.

Você poderia ter existido em todas as épocas e tempos.
Mas você existiu na melhor época que poderia: na ideal. Hoje.

E é isso que torna todos os seus dias especiais. Eles foram, são e serão SEUS.
Porque você É agora.

Você poderia ter escrito sua saga de modo sensacional, em todos os tempos.
Sua inteligência e sua visão de mundo te tornam esse homão da porra capaz de mudar o curso da história.
Se não da história do Mundo, ao menos sua própria.

E aqui, nessa coluna que é um espaço onde você cultiva seus pensamentos, planto minhas palavras amadoras numa tentativa de desejar um feliz novo ano todo SEU.

E meu desejo silencioso de que nunca mais queira existir sozinho.
Que me aceite não só como musa, mas como roteirista-auxiliar-vitalícia, colaborando nas linhas da sua história.
Da nossa história.

Para meu poeta preferido.
Feliz aniversário.

Sua musa.

(Um agradecimento especial ao Thiago e à Erica que foram meus cúmplices nesse pequeno ato invasivo. 💚)

Alguém que se perde facilmente entre cerveja, noites, amores, sexo, shows, músicas, letras, palavras, motos, asfalto, montanhas, amigos e nunca acha que é muito o muito pouco que viveu!

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Acervo público Metropolitan Museum of Arts, créditos: