Perdeu o sonho ao acordar assustado pra vida
Viu ficar sem saída seu esquecido impeto da infância
Deixou morrer sedenta e calada sua esperança
E em coma ficaram suas velhas lembranças
E atrás de cada não, de cada agonia de fim de dia
Por baixo do sorriso mole que se faz com cerveja
Escondido em cada satisfação mesquinha do salário
A cada vez que lança sobre uma bunda um olhar salafrário
Toda vez que comemora uma rua sem trânsito
Em cada dia que consegue enrolar no trabalho
Ficam lá seus desejos entorpecidos pelo dia a dia
Das vitórias sem honra dessa vidinha mesquinha
Mas ele sabe…
Chora baixinho pela vida perdida atrás de camisas e sapatos
Mas ai enfia o pé-na-jaca, atola até o joelho e finge que é feliz
Enche o copo, o peito, a cabeça… e no final fica vazio
Como o copo, o peito e a cabeça no final do longo dia…
Desce rasgando o conhaque, assim como as palavras que não diz
Engole os sonhos, com a fumaça amarga do cigarro paraguaio
Conta os dias no celular de mil megratrons, com internet e velocidade
Finge que não percebe que os aplicativos afastam fingindo unir
Só se sente em casa na penumbra do final do dia
Não acende mais as luzes pra não ver a bagunça
Acende o cigarro e tem certeza que felicidade é quimera desgraçada
Que nos engana e que a gente corre atrás sem saber onde ela está.