Uma Paulista Virada – Ou as impressões sobre o meu grande quase amor

19/05/2014 Gritos do Nada

Eu comi suas ruas negras
Como se fossem putas de ébano

Lambi os copos dos seus bares
E neles sentia o gosto do seu sexo

Sentei sobre o degrau de um prédio velho
E lá olhei teu céu e tuas entranhas

Beijei teu ar de fumaça, poeira e gente
Abracei suas luzes que se perdem no céu

Ouvi seus lamúrios no som sem nexo dos mendigos
Te ouvi fingindo ser seu amigo e só quis te comer

Caminhei nas ruas que eram dos carros
Sorri dos bêbados que dançavam na calçada

Queria estar onde eles imaginavam estar
Queria estar entre suas pernas imaginadas

Em cada esquina me achei e te perdi
Ignorei os nomes cinzas de suas placas

Andei a esmo por seus seios, lábios e coxas
Penetrei sua alma e no fim você quem me abriu

Quis beber suas lágrimas de cidade suja
Então levantei seu rosto de cidade nova

Não menti quando disse que te amava
Mas não chorei quando me virastes as costas

Assisti sua luz se perder pelo retrovisor
Mas continuei com sua luz em minha alma

Alguém que se perde facilmente entre cerveja, noites, amores, sexo, shows, músicas, letras, palavras, motos, asfalto, montanhas, amigos e nunca acha que é muito o muito pouco que viveu!

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