Era verão, de um verão que te derrete a alma de tão intenso. A alma dele podia-se perceber pelos olhos. Ah, os olhos! E junto com eles vinha o andar confiante, arrogante, de quem conhece os caminhos – mesmo que não os tenha trilhado.
Era mais moço que eu, mas estar em sua presença me fazia menina, mulher, mãe. Fazia-me pequena, mas de uma pequenice gostosa, daquela que é
cuidada, acalentada. Ele tomava as rédeas da situação, deixando-me sem meu maior poder: a arte de comandar. Mas, mesmo assim, eu tentava. E como tentava.
Tentava não ligar, tentava não me importar, tentava não sorrir debilmente após cada encontro, cada telefonema, cada mensagem. Tentava. E foi tentando que esse moço da pele morena dos índios da linha do Equador, derrubou os muros ao redor de mim.[quote_right]o cigarro fazia parte de nós, assim como eu, naquele momento, naquele ponto, fazia mais parte dele que ele próprio.[/quote_right]
Poderia dizer que foi lentamente, pouco a pouco, um passo de cada vez. Não foi. Foi brutal, foi instantâneo. A febre, a doença, o desespero que há tanto são minhas companheiras, se tornaram minhas donas. E pra disfarçar o alvoroço dentro de mim, eu esnobo, finjo indiferença, viro atriz.
Ele percebe e me puxa pra junto, pede, sussurra pra eu não ter de fazê-lo. Calma, pequena, vai ficar tudo bem – ele diz. E eu penso se, ao menos, ele soubesse aonde está se enfiando.
Minha casa está uma bagunça, cuidado. – disse-me na primeira vez que saímos juntos. Se você pudesse ver dentro de mim, acharia isso pouco, pensei. Esse moço da pele morena dos índios da linha do Equador tinha como o hábito, o fumo – e eu também. E, naquele verão, o cigarro fazia parte de nós, assim como eu, naquele momento, naquele ponto, fazia mais parte dele que ele próprio.
otimo *-*
Parabéns pelo texto.
Gostei especialmente desse trecho: “E pra disfarçar o alvoroço dentro de mim, eu esnobo, finjo indiferença, viro atriz.”
Quem nunca fez isso? xD
A paixão tem essas contradições…
Bjs 😉