Eles sofrem o frio e a chuva, são como sombras magras deitadas na rua. Me parece que conhecem o lado ruim e só esse lado, mas nem devem sofrer mais, acredito…[quote_right]Perdem o pudor, junto com o resto de sanidade[/quote_right]
Pedem, roubam, vendem, cheiram, viver mesmo nunca vivem!
Sorriem sorrisos desfalcados, para o espelho dos vidros dos carros fechados, fechados como os olhos que passam ser ver… São só crianças!
Os mais velhos tem histórias pra contar! E parece que precisam somente de platéia, seus violões sem cordas viram orquestras e suas histórias sem nexo óperas, que desfilam entre as pessoas e os carros, e uma platéia imaginária e feliz.
Perdem o pudor, junto com o resto de sanidade, e assim dançam sozinhos pela praça da Sé, ao som de qualquer música, ou de música alguma…
Também brigam pelo naco de pão jogado aos pombos, e incrivelmente, sorriem um riso infantil, só podem estar vendo uma beleza que sou tão treinado que não vejo mais…
Me perdi uma vez num monólogo de um deles, numa sexta sem breja numa praça qualquer. Ele me contou histórias sobre horóscopos, espaço, aliens, riqueza, família perdida, cavalos alados, Janis Joplin, perda de emprego e Raul Seixas. Numerólogo, fez contas malucas com minha idade e a dele, e legou aos céus o nosso encontro furtivo.
[quote_left]Sorriem sorrisos desfalcados, para o espelho dosvidros dos carros fechados[/quote_left]Tocou Pink Floyd num violão sem cordas, e sorriu o riso mais sincero do mês quando aplaudi.
Lá pelas tantas disse que eu era anjo (logo eu!) e me deu um dos anéis que levava nos sujos dedos
Mas fez mais, a cada história repetia essa frase: “Sempre escreva seus sonhos”
…
Montei na moto, fui embora, pelo retrovisor vi ele dançar atravessando a rua… foi inveja o que senti!