Irreparavelmente

01/10/2013 Gritos do Nada

Forcei a memória e não sei como foi a primeira vez que vi
Não lembro se sorri pra você, se você sorriu pra mim…
Não lembro sua roupa ou o tamanho do cabelo… nada!

Queria contar uma história grandiosa, de olhos que brilham e fascinam
De uma presença iluminada e única, do amor imediato e incurável…
Da certeza de ver a mulher da minha vida numa aparição apoteótica!

Apesar de poder jurar que é assim que te vejo hoje, não foi assim que te vi.
Acho que reparei em você aos poucos, muito quieta no canto da sala
Mais que ser discreta você parecia não querer ser vista… só isso explica!

Os olhos claros, a pele alva, o rosto lindo, o sorriso perfeito…
Nada disso! Só vi a roupa escura… e a pressa de ir embora.

Você foi uma aposta arriscada! Podia ser nada, podia ser tudo.
Porque foi tão diferente de tudo, que pela primeira vez na vida pedi um beijo
Com um medo que era de um garoto de 12 anos, não meu.

Estranho pensar nisso em como você, discreta e tímida, me intimidava
Eu, macho velho, experiente, era mais garoto que você na sua frente
Pedi o beijo, pedi pra ligar, liguei depois, corri atrás… fiz tudo errado!

Mas era tão diferente… lembro de uma vez que me ligou de uma festa
Tinha bebido um pouco, tava com a voz mole, as amigas em volta gritando
Daí foi pra um lugar tranquilo e me disse baixinho: Tô com saudades de você.

Só neste momento, após semanas te beijando na saída da aula
Percebi o que é verdade pra mim até hoje: sou seu, irreparavelmente.

Alguém que se perde facilmente entre cerveja, noites, amores, sexo, shows, músicas, letras, palavras, motos, asfalto, montanhas, amigos e nunca acha que é muito o muito pouco que viveu!

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Acervo público Metropolitan Museum of Arts, créditos: