Tento lembrar se existia paz quando minha única morada eram as ruas líquidas do ventre da minha mãe.
Reza em hospital.
Peço a Deus ao menos os grunhidos das crianças lá fora.
Mergulho no meu mais triste silêncio.
Os doutores, os relatórios, os sinais perversos dos desastres naturais que nos arrebatem.
Eu rezo, quem sabe a sorte sufoque o amanhã.
O turno, os operários, a lembrança mais remota que tenho é uma cidade do interior.
Regressão num leito frio. A terapia que antecede a morte.
Eu rezo. As vezes eu quero ir embora, hoje eu não vou. Do que será que sonham as máquinas?