6 – Complexo de Golbach

26/07/2013 Sonhos Viciados
[quote_right]E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto.
Gênesis 1:31[/quote_right]

Olhei pro espelho e como um retrato cheio de mistério e putrefação, como um Dorian Gray com mais coragem, vi meus olhos imundos.

Minha face contaminada pela vergonha de meia-dúzia de erros maldosos.

O cara do reflexo mataria seus inimigos, como um selvagem, e os serviria no jantar. E caminharia seiscentos e sessenta e seis dias no deserto com o gosto de suas carnes na boca.

Gosto de satisfação e vitória. Doppelgänger as avessas. Uma cópia que queria ser em tempo integral. Uma cópia que invejo e esboço ser

Olhei pro espelho, olhos secos, todas as virtudes da outra face suja me levam pra um fim de desgraça e escuridão.

Um fim certo, como complexo de Golbach,impossível de provar mas prático e real. Cada espelho que vive nas nossas ruínas e virtudes, cada santo convertido em demônio, cada vergonha de ser quem somos, cada deserto de glória vencido em força sobrehumana.

Meia-dúzia de rezas, meia dúzia de erros, meia dúzia de acertos. Número perfeito em corações receosos.

Líquidos olhos, sou eu ou o espelho?
Não sei.

Um cara entre vielas cheias de gente e ônibus lotado. Que se perde em alguns bares e se põe a ver a velocidade dessa gente. E rir da estupidez dessa lógica.

Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Últimas Postagens

19/01/2024 Sonhos Viciados

Reza em hospital

Tento lembrar se existia paz quando minha única morada eram as ruas líquidas do ventre da minha mãe. Reza em hospital. Peço a Deus ao menos os grunhidos das crianças lá fora.  Mergulho no meu mais triste silêncio. Os doutores, os relatórios, os sinais perversos dos desastres naturais que nos arrebatem. Eu rezo, quem sabe […]

Leia mais…

26/08/2020 Sonhos Viciados
O que será que leva dentro? O suor triste do operário?

Uma piñata feita com uma mochila Rappi

25/01/2019 Sonhos Viciados

São Paulo habita em mim

Eu sou todo saudade,Entre a São João e avenida liberdade. Eu sou todo um corpo violado,Um bar esquecido no altar suspenso das suas coxas. Eu sou todo pixo,Pura violência nos muros da sua intimidade. Eu sou todo abandono,Adormecido na fileira mais suja do cine Arouche. Eu sou todo saudade, afogado no barril de corote do […]

Leia mais…

12/08/2018 Sonhos Viciados

O comício se acaba e só o mar é infinito

Palavras de ordem em um caminho que ninguém passa. O grito das Poesias sonhadas & nunca ditas. O comício se acaba e só o mar é infinito. A fome devasta as crianças de olhos pequenos e pés descalços. Brincamos num mundo inventado onde os pederastas nos vigiam & só o sol castiga. As mentiras postas […]

Leia mais…

12/09/2017 Sonhos Viciados
Me sinto uma versão beta construída por estudantes primários fascinados por orgias que nunca participaram.

Esse é o meu poema mais ultrapassado

07/09/2016 Sonhos Viciados

A herança de todos os miseráveis

Eu carrego comigo: coragem, dinheiro e bala. Já disse um poeta, já disse um deputado. Você escolhe o palco da vida ou a Bancada da bala? […]

Leia mais…

Artista



Acervo público Metropolitan Museum of Arts, créditos: