Eu carrego comigo: coragem, dinheiro e bala. Já disse um poeta, já disse um deputado. Você escolhe o palco da vida ou a Bancada da bala?
A vida quer seus miolos de elástico rompendo fronteiras. A bancada da bala quer impor paz com um instrumento que promove medo, domínio, morte e muito dinheiro. Aqui se lucra na desgraça alheia. Oportunidade de negócio, superfaturar arroz pra faminto.
Não sou dessa ordem, nem desse progresso. Sou o acaso das crianças sem escolas. Sou a saia molestada em transportes públicos, sou a sorte da minha conta bancária, um papelão improvisado pra ser cama.
Enquanto não sentirmos as dores dos desafortunados seremos o golpe que asfixia oportunidades, o silêncio frente todas as violências, a herança de todos os miseráveis.
Não quero a fúria dos letrados pela palavra do senhor, nem a jaula milimétrica dos leões. Meus miolos rompendo fronteiras nunca mais vão voltar pra casa. Nunca mais ouvir os discursos editados pela vida apressada e sorrateira. Filosofia em 30 segundos, receita em 30 segundos. Não deu saudade dos comercias de TV. Abdômen definido com apenas 15 minutos ao dia. Cogumelo do Sol listrado.
Nascer quadrado e morrer metade frio, metade assalariado.
Piscina de correntes para mergulhar a alegria das crianças mortas. Sinta as dores dos desafortunados, seja os pés dos seres que suportam labaredas nas unhas da alma. Sinta! não volte para a casa! Só assim nos reencontraremos num novo amanhã, sem correntes, medo e fome.
Sinta! Não volte para a casa.