A herança de todos os miseráveis

07/09/2016 Sonhos Viciados

Eu carrego comigo: coragem, dinheiro e bala. Já disse um poeta, já disse um deputado. Você escolhe o palco da vida ou a Bancada da bala?

A vida quer seus miolos de elástico rompendo fronteiras. A bancada da bala quer impor paz com um instrumento que promove medo, domínio, morte e muito dinheiro. Aqui se lucra na desgraça alheia. Oportunidade de negócio, superfaturar arroz pra faminto.

Não sou dessa ordem, nem desse progresso. Sou o acaso das crianças sem escolas. Sou a saia molestada em transportes públicos, sou a sorte da minha conta bancária, um papelão improvisado pra ser cama.

Enquanto não sentirmos as dores dos desafortunados seremos o golpe que asfixia oportunidades, o silêncio frente todas as violências, a herança de todos os miseráveis.

Não quero a fúria dos letrados pela palavra do senhor, nem a jaula milimétrica dos leões. Meus miolos rompendo fronteiras nunca mais vão voltar pra casa. Nunca mais ouvir os discursos editados pela vida apressada e sorrateira. Filosofia em 30 segundos, receita em 30 segundos. Não deu saudade dos comercias de TV. Abdômen definido com apenas 15 minutos ao dia. Cogumelo do Sol listrado.

Nascer quadrado e morrer metade frio, metade assalariado.

Piscina de correntes para mergulhar a alegria das crianças mortas. Sinta as dores dos desafortunados, seja os pés dos seres que suportam labaredas nas unhas da alma. Sinta! não volte para a casa! Só assim nos reencontraremos num novo amanhã, sem correntes, medo e fome.

Sinta! Não volte para a casa.

desafortunados

Um cara entre vielas cheias de gente e ônibus lotado. Que se perde em alguns bares e se põe a ver a velocidade dessa gente. E rir da estupidez dessa lógica.

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Acervo público Metropolitan Museum of Arts, créditos: