O cigarro se apaga lentamente no cinzeiro
E eu lembro de como vocês se tratavam.
-Mulher, cadê minha comida?
-Já estou levando…
-Mas como pode isso? Uma mulher casada estar tão perto de outro homem? (Meu avô se questionando e parecendo enlouquecer, se perder em sua lógica meramente tradicional ao assistir a novela das nove, esperando seu jantar ser trazido pela minha avó).
Ninguém conseguiu explicar de maneira que o convencesse
Que os tempos mudaram e que tudo era ficção.
Acho que para ele era um fragmento da vida real,
Sim, é um fragmento, sensacionalista, sensual e casual.
Mas não convencional ao ponto de fazer meu avô entender.
Sim, aquele era o amor puro…
Puro, bruto que foi lapidado ao longo de quarenta e sete anos.
Banhado a respeito e um amor que foi construído.
Pois, ela com 14 anos, ele com 20.
Podia ter sido doloroso, ruim para uma das partes.
Mas ele tocava moda de viola e ela bordava como ninguém,
Dois jovens prontos para a vida, prontos para 7 filhos?
Eles mostraram que sim e tinham a tal da inocência.
E aqui, século XXI do jeito que tá, não combina mais
Tá banalizado por baladas eternas e infernais
Imediatismo sem lógica, entretenimento barato
LSD, diversão, fanatismo, dadaísmo…
Um isqueiro, por favor, quero toda a fumaça dentro de mim
Para nessa neblina não lembrar mais quem eu sou
Mas aquele sim era um amor puro…
One thought on “Que desejo descontrolado é esse? Parte II”