Ele recusou o cigarro:
– Cara, já falei que não fumo essa merda… aliás vá fumar longe… melhor ainda: nem fume. Disse Gustavo quase cuspindo cada palavra.
Cagou pro fato de ser um novo cliente, cagou pras notas de cem que o cara fez questão de mostrar que tinha na carteira… Gustavo andava com nojo até de si mesmo ultimamente.
– Seu cabelo é lindo… você é perfeito! Deveria estar longe daqui, eu posso levar você pra conhecer umas pessoas, um pessoal de teatro e… Gustavo corta o papo pegando e esfregando com força a mão do seu interlocutor no seu pau!
– Você quer isso né? Então é só me pagar que será seu… pode cotar esses papinhos, já estou a tempo demais nesta merda pra ter esperança de sair. Fuma essa sua merda ai e vamos logo pro seu carro.
Mas ele não desistiu, pediu outro drink, chamou outra cerveja pro Gustavo e tentou engatar outro papo com ele…
Gustavo percebeu que não seria como esperava, as vezes acontecia, o cliente queria bater papo, conhecê-lo, e numa próxima fazer o que sempre fazem…
O nome dele era Caio, tinha um sobrenome pomposo, mas o Gustavo não ligava, pro Gustavo saber nome já era o suficiente. Isso e perceber logo se o cara teria a grana ou não.
Esperou a cerveja chegar (se certificou que ela estava fechada antes de beber) e se deixou envolver naquela conversa… não custa nada, pensou.
– Então… é Gustavo né? Pois é Gustavo, eu trabalho numa editora. Tem um pessoal que tira fotografias que eu conheço… Recomeçou Caio
– Eu já fui modelo, vim do Rio pra cá pra trabalhar em desfiles, mas um teste do sofá atrás do outro acabei sendo mudado de ramo… conheço sua área, e não quero voltar. Ser garoto de programa deixa as coisas mais sinceras. Disse Gustavo.
Essa conversa o incomoda, fica lembrando das esperanças que teve, das mentiras que conta para sua mãe toda semana…
Mas Caio está imbuído:
– Na verdade Gustavo (falou mais uma vez sem certeza), eu conheço pessoas que fazem fotografias de arte sabe? Seria mais um bico que um trampo…
Gustavo não responde, acena com a cabeça enquanto engole quase metade da garrafa de cerveja que ganhou… Caio continua o papo, fala nomes, lugares, fala de trabalhos de amigos, galerias de arte, vernissage… Gustavo ouve com pouco interesse quase que por educação.
Trocam e-mails, Caio pergunta se Gustavo ainda tem book…
– Então Caio (Gustavo fingiu incerteza) eu preciso procurar cara, faz tempo que ninguém me pergunta isso… te aviso.
Caio pagou a conta, foram pro carro… Caio ofereceu carona, mas pediu pro Gustavo dirigir. Rua vai, rua vem Caio deita sua cabeça no colo de Gustavo…
Ao chegar no destino Gustavo fecha as calças, Caio sente envergonha enquanto ofega e muda do banco do passageiro pro banco do motorista:
– Bom Gustavo, ótimo te conhecer cara…
Era essa parte que deixava tudo péssimo pro Gustavo, pedir a grana, contar e ai sim ir embora…
Tinha sido legal, conversou com uma pessoa sem estar com o nariz cheio, sem ser pelos cantos escuros, sem ser gritado entre as batidas da música… Mas tinha que cobrar.
Caio foi elegante, estendeu a mão com o dinheiro dobrado, Gustavo pegou, mas não contou dessa vez… Beijou Caio no rosto e sumiu nas sombras da Vieira de Carvalho…
Gustavo está cansado, mas ainda é cedo e sua mãe liga:
– Oi mãe!… Tudo bem sim, tô ótimo. Novidade? Ah tenho uma… arrumei um trabalho novo, algo com arte sabe? Fotografia pra ficar em galeria… A senhora ver? Claro… Gustavo se deixou envolver nas mentiras que contava e na alegria da sua mãe orgulhosa do outro lado do telefone.
Mesmo os dias mais fáceis são muito difíceis…
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