O trânsito parou ante os gritos rimados da multidão
Os vidros estão fechados nos carros assustados
Tem os rostos cobertos os revoltados no meio da rua
E capacetes da PM protegem nosso viver encabrestado
Estão colocados frente a frente Cavalos e Peões Brancos
A classe média reclama nos carros parados
Dentro dos ônibus os rostos tristes da periferia
Igualados na morte e na espera do trânsito
Ainda assim vivem em seus mundos separados
Os Peões Pretos apenas observam, não se acham parte do todo
E fora desses mundos o conflito se estabelece
Todos correm enquanto sobe no ar o gás de pimenta
Pelas ruas se espalham os curiosos que agora correm
PM’s protegem a porta de um prédio público qualquer
Torres e Bispos atiçam seus Cavalos… eles não tem cores
Morteiros, bombas, cassetetes e tiros de borracha
Rostos cobertos, paus, pedras e coquetéis molotov
Tudo zune e voa por sobre a praça e seu céu negro
E vira um som só, junto dos gritos e dos palavrões…
É só na vida real que os Peões Brancos se movimentam como querem
Viram o carro e nos jornais requentam o termo vândalos!
Descem pelas ruas e vandalizam lojas e lanchonetes
Mesmo lugar onde a pouco pagaram pelo Nº1 no cartão
Quer coerência de quem deixa de saldo lojas quebradas?
É só no Xadrez que os Peões Brancos não podem recuar
Duas horas? Três horas? Quem sabe… só agora a rua volta a viver
Por sobre os escombros partem funcionários alforriados por hoje
Que vão chegar mais tarde pro descanso e não querem entender
Vão ver o jornal achando que tudo tem apenas um lado, e acabou.
Torres, Bispos e Cavalos (sem cores) combinam seus discursos
Na escalada dos jornais dois rostos graves dividem as manchetes
“Quebradeira, protestos, vândalos, professores, balas de borracha…”
Tudo vira uma coisa só e destrutiva e a confusão da praça fica menor
Que a confusão que o jornal tenta fazer na cabeça de quem acredita
E no fim os Peões acham que seus inimigos são os Peões de outra cor.