Promessas de fim de ano

03/05/2013 Colunas - Zumbido Fugaz

Hoje meu chefe chegou e me chamou…

-Hey, me ajuda a escolher uma imagem para a divulgação da festa para o dia dos namorados?

-Dia dos namorados?

Oh sim, já estamos no início de maio e já temos que começar a pensar na propaganda para esse dia dos namorados que só comemora-se por aqui, nesse país, em junho. Congelei por um momento e pensei…

Céus, já estamos quase no meio do ano, daqui a pouco é dias das mães, festas juninas, dia dos pais, primavera, Hanami, Halloween, proclamação da república, Natal e blá blá blá… E eu que fiz tantas promessas de fim de ano.
Disse a mim mesma quando os fogos se espalharam pelos céus que não ia mais a padaria toda manhã comprar um maço de cigarros, ao invés disso iria levantar um pouquinho mais cedo para caminhar, ia fazer uma bateria de exames para me certificar de que tudo está em ordem, ia visitar mais frequentemente minha tia que me criara com tanto carinho, ia participar de uma oficina de cinema que um amigo apresentava aos sábados… Mas sabe o que eu fiz?

Tirei a roupa branca no dia 2 e continuei vestindo a camiseta cortada do Kurt Cobain, comprando meus cigarros e mais cinzeiros para enfeitar a casa, dormindo até além da conta, quase perdendo e de fato perdendo a hora por vezes e aos sábados indo a Paulista, Augusta, qualquer lugar aonde as pessoas não se importam com seu cheiro meio velho e modos… Larguei meu mestrado sobre o Pasolini e continuei trabalhando nessa agência rindo das modelos bizarras, bebendo cerveja com alguns colegas menos frescos, comendo cookies…

Talvez a mudança não venha só porque é ano novo, mas você tem que sentir que algo tem que mudar, você tem que acreditar nessa mudança. Claro que todo esse ritual de fim de ano é interessante, é importante, é necessário… Pois quem trabalhou duro, quem teve decepções, quem não conseguiu ainda tudo que deseja, precisa de alguma verdade para se agarrar e essa é a verdade que o Ano Novo nos traz… Renovação, fé, esperança, das quais eu tenho acredito há seis anos e não consigo me mover. Estou petrificada, esperando um milagre, um amor, uma ventania, um tsunami… Só algo que me vire do avesso e me mostre algo realmente relevante para continuar a viver…

-May? Você tá bem?

-Estou sim Pedro… Me desculpe, tive uma boa ideia para a campanha…

Um certo alguém simples que busca conhecimento e auto-conhecimento através dos escritos. Que se encanta por olhares e perde a noção do tempo tentando desvendá-los...

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Acervo público Metropolitan Museum of Arts, créditos: