A inveja do tempo

16/08/2012 Sonhos Viciados

Me encanta o ócio dos jovens desperdiçando o tempo, convencidos e espertos demais.

Me encanta os padres pederastas, em nome do bom Deus tudo é possível.

Me encanta os discursos perversos dos meus amigos comunistas.

Me encanta o futuro molenga e o passado devorador.

Me encanta as diferenças que te ferem e te tiram do lugar.

Me encanta as músicas de festa em que negamos todas as canções fúnebres.

Me encanta os falsos amigos, eles tem coragem de olhar a minha cara sem rancor algum.

Me encanta o sol que convida as garotas a diminuírem as saias e as blusas.

Me encanta nossa fúria e capacidade de acabar com tudo, cegos em nossos desperdícios.

Me encanta o hálito de todas mulheres e os perigos que elas reservam.

Me encanta as armas químicas e os garotinhos empunhando rifles, nosso jeito primário de resolver diferenças.

Me encanta o relógio, ele vai girar por toda eternidade e se repetir sem sair do lugar. A repetição é o seu inferno.

Me encanta a ideia de desprezar tudo que me fascina, pra saber das tuas horas, das tuas saias, sem me preocupar com o hálito da morte.

E acordar todas as manhãs olhando seu descanso, desejando que isso se repita, a inveja do tempo.

A terrível qualidade dos homens. Cronos de joelhos.

Um cara entre vielas cheias de gente e ônibus lotado. Que se perde em alguns bares e se põe a ver a velocidade dessa gente. E rir da estupidez dessa lógica.

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Acervo público Metropolitan Museum of Arts, créditos: