Minha janela nesse domingo entrará em retiro espiritual. É dada a hora de outras bandeiras tremularem e não às minhas. Por isso fecho a janela do mundo e me recolho com certo constrangimento.
Sou sim contra essa gente que governa, essa gente que usa recurso público pra benefício próprio, essa gente careta e sem graça que popula os congressos, plenários e anestesia as cabeças já engessadas dos nossos juristas, sou sim contra todos eles. Mas não me assusta essa gente articulando suas vontades, me assusta meus iguais pensando igualmente como eles. Defendendo os mesmos valores que eles.
Amanhã muitos vão cantar contra essa gente e o grito vai ecoar por todas as ruas, mas nessa festa eu não vou entrar, esse samba eu não vou bailar. Não partilho dos mesmo fins que essa gente de guache verde amarelo e me falta o músculo dos fortões para cantar esse hino pátria amada que abandona seus filhos a toda sorte e acaso. Não sou da ordem da conveniência e nem desse progresso cheio de fúria e ódio.
Vou vestir minha camiseta negra mais uma vez. Que nada tem de luto, mas lhes digo uma vez mais, minha camiseta negra é de luta. De luta por sonhos, luta por igualdade, de luta por reinvenção, de luta por um amor sem fim. Fico muito feliz pela comoção, pela posse das ruas, pela brincadeira adorável que a democracia permite. Porém, todos os coquetéis da minha varanda não serão usados contra gente comum que pensa diferente de mim e são tão miseráveis quanto eu. Minhas armas estão apontadas em cada vez que repetimos uma convenção medíocre simplesmente por que assim nos ensinaram e assim repetimos todos esses códigos de domínio e exclusão.
Se poderemos extrair algum traço inteligível na mobilização de amanhã, então terás mais uma prova que a esquerda é muito mais sedutora que essa onda sem direção. Mesmo acumulando um punhado de erros, veremos que a esquerda não espera o dia de descanso e lazer para se fazer ouvido, que sabe moderar discursos radicais com doçura e lirismo. Que vêem além do horizonte.
“Status quo de merda.”
Esse dia é de vocês crianças, gritem e lutem. Um ótimo exercício para vocês, peões cegos que lutam diariamente para manter essa maravilhosa engrenagem assassina rodando em nome de sua própria sobrevivência.
Não serei o dia 15, não serei o Brasil, serei todos os dias minha camiseta negra, onde quer que eu esteja, estarei pronto para explodir.
Venceremos.