Nunca gostei de brincadeiras de crianças, nem das maldades que elas gostavam.
Igual a minha mãe, eu nunca fui daqui, falamos errado, escrevemos torto. Expatriados.
Nunca beijei bandeira alguma e todos os hinos que protelei foram repetições que alimentavam ainda mais ódio e a certeza de não ser daqui.
As vezes eu volto pra casa, eu toco um samba, escondo ópio e dou um beijo apaixonado. Eu sou daqui, eu voltei pra casa.
Que saudade de casa! Que me importa como andam as ruas onde eu cresci, que cor está o prédio onde morou a garota que já morri de amores. Que me importa?
Me importa só o gosto de casa, meu disco predileto, as garotas que tanto amei, o amor que escolhi para esvaecer em domingos. No geral, eu imito o dialeto, esboço sorrisos. Guardo um dinheiro. Expatriado.
Um poema de amor, um poema de amor anarquista, uma poema de amor anarquista que um dia eu sonhei tanto.
Eu não sou daqui. Expatriado