Sentou sozinho na praça
Ele, um homem qualquer
Abriu a garrafa, quase vazia
No fim do dia, lhe resta o beber
O vento castiga o rosto
No bolso a foto amassada
Nos lábios ainda o gosto
De perder e não ter mais nada
Segura a esperança e o choro
Não convém chorar sem ombros
Pende pro céu o seu rosto
Lágrimas transbordando o olho
O relógio grita, mudo, as horas
Ele precisa ir embora
O caminho, que já fez sorrindo
Hoje ao fazê-lo, chora
Seus passos pesados, medidos e contados o levam pra casa
E, tenha certeza, casa mais vazia e triste não tem
Vê as flores que morrem no quintal, a suja calçada
Segura o choro, mas sabe que não é da conta de ninguém
Seu peito, vazio, é de terra agora
E as lágrimas fazem dele lamaçal
Liga a TV pra ouvir qualquer coisa
Já que agora até o sublime virou normal
Não sabe onde arruma forças pra amanhã
Mas logo mais ele acorda aflito
Ainda passa a mão pela fronha do lado dela
E sente o vazio que pesa naquela cama
Ele, um homem qualquer
Ela, um passado distante
Ele, a morada da solidão
Ela, uma saudade inquietante