Sangue, Suor & Cerveja – A Partida de Truco

28/11/2014 Gritos do Nada

Antonio não queria nem saber, pediu outra!
Mesmo estando tão bêbado que não se levantava

O truco estava silencioso, como nunca esteve
E Antonio só fez sua jogada quando a breja chegou

Tomou de um gole todo o conteúdo do copo americano
Respirou pela boca e soltou um suspiro alto

Seu parceiro limpava o suor que lhe escorria da testa
Eram 50 reais apostados por cada jogador, ele pensava

A embriaguez de Antonio milagrosamente passava
E então ele lembrou do seu dia de merda…

Das coisas que ouviu o dia todo e deixou passar
Lembrou das mulheres que nunca lhe olharam na cara

Pensou em cada derrotinha que tem durante seu dia
E pensou que agora era a hora de se vingar…

Tinha um ZAP! Seu adversário lambia os lábios
A guerra do truco se dá mais com mente que com cartas

Faz o sinal pro seu parceiro fazer a primeira
Ele manda um pica-fumo e os caras deixam passar

Vem a segunda e o parceiro não joga nada!!!
Ele fica puto, até que entende a estratégia…

A segunda foi ganha por eles com um 2.

Vem a terceira e então o silencio é cortado: TRUUUUCO!
Seu parceiro coça a testa, estremece… não recebeu o sinal

Antonio diz que quer ver e faz seu parceido pedir seis
Ele pede sem nem levantar a voz…

Os caras aceitam, mandam descer, o parceiro de Antonio joga o 3…
Todos se entre olham, eles riem e um grita: NOOOOOOVE!

Antonio sente que é esta a hora… chega a sua vez.
Ele olha o Copas no meio da mesa, vê os olhos arregalados do parceiro

Toca com o dedo as bolinhas que escorrem do seu copo
Afasta a cadeira e então toma um ar…

DOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOZEEEEEEEEE LADRÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOO!!!!

Seu parceiro fica branco! Abaixa a cabeça e parece rezar
Os caras ficam indecisos, olham o Copas e os olhos semi-serrados de Antonio

Um deles pega no braço de Antonio, olha no fundo dos seus olhos
Sente o cheiro da bebida, sorri e diz: Desce.

Antonio levanda da mesa, pega o copo, bebe…
Manda o Paraiba descer uma branquinha… saboreia o momento.

Então ele desce, bem lentamente, a mão até a mesa e apresenta o ZAP.
Seu parceiro levanta da mesa e começa a pular pelo bar…

Os caras levantam, Antonio pega a grana e sorri para eles.
Não se viu de onde, mas um deles tirou uma faca e furou Antonio

Todos correram, ficaram no bar Paraiba e Antonio apenas…
Antonio vê o sangue manchar sua camisa social amassada

Assiste o desespero na cara do Paraiba… mas continua sorrindo
Tosse sangue e fecha a cara e diz: Porra Paraiba, cadê minha pinga?

Alguém que se perde facilmente entre cerveja, noites, amores, sexo, shows, músicas, letras, palavras, motos, asfalto, montanhas, amigos e nunca acha que é muito o muito pouco que viveu!

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Acervo público Metropolitan Museum of Arts, créditos: