Olhou pro sol e pro chão, limpou o suor e partiu!
Resolveu que iria até a calçada acabar
Assistiu a água suja descer pela sarjeta e sorriu.
Imaginou-se navegando entre as manchas de óleo…
Era tudo em vão mesmo, imaginou…
As calçadas, a água suja a correria
O trabalho, as mentiras e as verdades
Sentou-se, cansado, quando a calçada acabou
Leu a placa da rua, (Rua Alegre)…
Levantou-se pra andar até o fim dela
Passou pelos prédios classe média
E os pontos de ônibus das diaristas
Terminou a rua numa esquina desolada
Uma forte subida, e era o fim da Alegre
Pediu comida numa empresa perto dali
Tinha ainda as roupas limpas,
Mas o olhar lhe traía…
Era um homem da rua, não podia mentir
A falta de carne, um tanto mais de sol
A testa enegrecida pela fuligem dos carros
Suas histórias, quase nunca factíveis…
Era um homem da rua, e podia mentir!
Lembrou de porque começou a caminhar
Da criança, sua filha, que jazia no chão
Do ônibus, da rua, das pessoas gritando…
Ele não suportava, nunca iria suportar
Mirou outra vez o horizonte mais distante
Levantou limpando a calça muito suja
Estalou as costas, disse obrigado
Partiu!
Chorou baixinho, pelo que sempre lhe faz chorar
Sabe que por mais longe que ande
Sua memória estará sempre lá…