A única companhia que tenho em casa é o barulho do motor da geladeira.
Um mar de copos sujos na pia, uma repetição de copos, todos de café, algum suco ou cerveja.
Hábitos detestáveis para ela, que ficam aflorados em sua ausência.
Sempre que ela vai embora eu fico livre, pra esquecer do banho, beber descontroladamente ou viver na base de café.
Fico de bem com o tempo e sem culpa com o chão carente de vassoura.
A mesa acumula restos de comida e pratos sujos, mais manias que ela odeia.
Estou flutuando num domingo com relógios atrasados.
A companhia da TV é apática e aos domingos ela é claustrofóbica.
Os meus discos mais sujos soam entediantes, os livros não me desligam dos estalos da geladeira.
A noite afunda a cidade ruidosa entregando concretos velhos semi-iluminados.
Escondendo as crianças em seus quartos e mutilando bêbados com bares de portas fechadas.
A noite engole ruas e estradas.
Tenho uma madrugada e nenhuma companhia.
Quando você volta?
Estou livre, fazendo tudo errado. Nunca quis que isso fosse um diário.
Quero voltar a ficar preso. Enjaulado.
Condenado em todos os seus gestos de amor.