Hoje olhei pra larva que se contorce no banheiro. Simulando senoides nas redondezas do ralo.
Deve achar uma delícia a água que escorre da ducha quente.
Se contorce na luz gostosa da manha.
Olhei com inveja pro verme cheio de vigor.
Estou exausto, frívolo, inerte. Mudo e carcomido pela rotina devastadora.
Ela cheia de vida vibrando e eu querendo fugir nos canos pra desembocar num oceano imenso e me diluir entre kilometros de tubulação e litros d’água.
Hoje senti inveja de um filhote de mosca, ainda sem forma.
Lembrei do meu pai finalizando as conversas com certo ressentimento simplista. “A vida não é fácil”.
Empurrei o bicho pro ralo, minha ação de ressentimento.
Agora é ela que navega em águas misteriosas.
Espero que desapareça no universo.
Fecho o registro como se desse corda para agüentar mais um dia.
Hoje sou um filhote de mosca que esta agonizando, mas finge ser feliz