”A nossa liberdade é o que nos prende.”
Outro dia de verão, eu querendo o contrário pois não é fácil trabalhar no calor com roupa social. Quando olhei minhas roupas de inverno peguei a minha blusa flanelada em tons de vermelho. Senti o seu cheiro, tão suave, mas ainda estava clara a mistura de nós dois ali. Lembrei que quando te vi pela primeira vez estava com ela e sentia muito frio… E você me aqueceu em seus braços e abraços. Chegando a sua casa, que revigorante conhecer a Stelinha! Uma cadelinha tão amável que o trocou rapidamente por mim. Você ficou surpreso por ela não ter latido, se acostumou tão rápido com a minha presença.
Dias felizes com ligações de até quatro horas parando de falar só porque o celular descarregava. Ciúmes de brincadeira, beijos bem modelados, muito chocolate misturado com filmes de aventura. Cada mensagem preocupada, avisando aonde ia e quando chegava. Conectados pelas redes sociais e por um vínculo invisível que poucas pessoas conhecem na vida. Tão incondicional, sem cobranças… E sem rótulos! Nossos amigos diziam que éramos um casal meigo, dois anjos meio perdidos.
Gostava mesmo era de ficar deitada de frente para você, como conseguíamos passar horas nos olhando? Me afogava no mar dos teus olhos, que eram de um azul que ficava entre o calmo e o melancólico. Naquela época seu irmão estava com a peça inspirada no ”Pequeno princípe” em cartaz, faltamos no trabalho para vê-lo, a alegria dele ultrapassou o nornal e nós fomos expulsos de lá por ficar elogiando e aplaudindo ele. Que dia torto, perdi o último trem e demos uma volta por São Paulo para eu poder ir para casa. O jeito natural de cuidar de mim, que levava sempre maçãs, me sentia uma professora do primário, mas enfim que belo aluno tinha. Não compreendia muitas coisas que você dizia, mas não me importava de ouvi-lo por horas e horas. Sua coleção de carrinhos e anéis, suas fotos de criança tinham algo tão encantador.
No dia que fui a sua casa e você não estava, precisava do próximo livro da Ordem dos arqueiros, estava inquieta para ler. Ao entrar no teu quarto, me subiu um ar quente ao rosto por ver no seu mural de fotos, uma foto nossa e em uma das abas da internet o meu blogue aberto. Apesar da falta de qualquer compromisso ou vínculo fixado, mesmo romântico exagerado não existia, eu me frustrei. Pois parecia que tudo que combinamos, que vinha ao seu tempo, te incomodava.
Não continuamos juntos, não por falta de carinho… Mas é que o convencional começou a te afligir, você queria me apresentar como a sua namorada e surgiu ciúmes dos meus amigos, se eu não concordasse, ia ficar do lado certo da história ao meu ver. Te explicava tudo detalhadamente, não por obrigação, mas eu achava bom termos clareza nos nosssos atos. Não cobrava para você ir me ver, quando nossos horários vagos coincidiam íamos dar uma volta aonde quer que fosse. Mas depois você queria mais de mim, você queria a mim… E eu não estava disposta a ceder, relacionamento não podem ser algo forçado, tem que ser com aquela pessoa que te motivou de um modo diferente.
Tão bom estar contigo, mas eu não podia comprometer minha vida com outra vida, aquele instante era decisivo para mim. Até aquele momento a liberdade de fazer o que se quisesse sem contratos para sempre, mesmo eu sendo sua princesa nos unia para o que precisávamos. Mas quando uma das partes muda de ideia, destrói os planos.
Eu queria te ver, mas não posso mentir e dizer que tudo bem modificar algumas coisas por ti. Então no próximo outono te ligo, para saber as novidades. Agora é hora de trabalhar, um vestido confortável e um salto alto. A flanela fica para algum dia…
Sem contratos, mas bota aquela meia calça de renda. E vamos pela sorte, pelo risco. Bota aquela saia, a doce equilibirista e eu refém que vou atrás dos teus caminhos.
Veste aquele sorriso alegre, mesmo mentiroso. Deixa pra trás suas regras e lembranças. Que esse seja o último, que o beijo seja único… Minta! Sorria! Seja feliz!