Destestar amar

30/10/2013 Gritos do Nada

Quis sentir ódio dos dias cinzentos quando sai da cama
Menti meus sorrisos e bom dias, pra não estragar mais o dia

Passei pelos fantasmas que correm pelas ruas pro trabalho
E imaginei se invejam a mendiga dançando e cantando na calçada

Me vi nas suas chuvas nojentas que infestam a cidade de sujeira e detritos
E nas marginais paradas, com rios mais mortos que os motoboys pelo chão

No centro, no chão, no ar dá pra sentir o cheiro forte de uma cidade que é nua
E o pretume das fumaças dos carros ou dos pés descalços de quem vive na rua

Acordo todos os dias querendo detestar mais essa loucura, essa cidade
Praguejo contra o tempo mutante, o trânsito constante e a cinza feiura

Maldigo o dia que me enviei nessa fossa gigante, embrião aberto de sonhos
Que pari todo dia um sonho novo e uma nova decepção… todo dia… todo dia…

Todo dia os mesmos caminhos e todos lotados, todos os dias a mesma inconstância
E só nessa inconstância a cidade se acha constante, tudo muda sempre, isso não muda

Então tenho devaneios com as praias, parques, chácaras e outras escapadas
Pra então acordar entre os carros achando lindo o sol se refletindo no asfalto

Assistindo o corre corre das pessoas cruzando a avenida fora da faixa
E vendo as pernas das moças que corriam sorridentes e assustadas… sorrio.

[Outro dia um cachorro cruzou assustado a Av. do Estado
E um senhor parou sua Kombi de lado pra impedir o trânsito

Desceu pegou o cão sujo no colo, sem ligar se sujaria sua camisa
Fez carinho nele e calmamente o levou à calçada… nenhuma buzina se ouviu.]

Amaria detestar a cidade que parece fazer cara feia para rejeitar a todos
Como o crack a cidade afugenta com a mesma força que atrai e vicia…

Não é amor pra todos nem pra ninguém e talvez nem mesmo seja amor,
Mas tem dias que São Paulo me sorri um bom dia e fica impossível lhe odiar.

Alguém que se perde facilmente entre cerveja, noites, amores, sexo, shows, músicas, letras, palavras, motos, asfalto, montanhas, amigos e nunca acha que é muito o muito pouco que viveu!

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Acervo público Metropolitan Museum of Arts, créditos: