Nossa própria eternidade

07/03/2012 Gritos do Nada

Eu ia escrever um poema, mesmo!
Ia ter que ter rima, métrica

Eu tentei escrever um poema
E fazer caber nele o que sinto…

Dividi as frases, procurei palavras
Rimei, refiz, li e reli…
Terminei e ele era bom
Mas pra você ele não servia

Comecei de novo!
Resolvi que a primeira frase devia ser:
Eu te amo! Porque você me faz mais eu!
E perdi a rima, não achei o ritmo

Apaguei todas as palavras do bloco de notas
Comecei de novo, quis falar do sorriso sincero
Dos olhos verdes hipnotizantes, do cheiro
Do sabor, e ficou pornográfico!

Apaguei de novo…

Sabe o problema qual é minha musa?
É que não dá pra ser técnico com relação a você
E se fosse fazer um poema sobre o que sinto seria assim:

Te amo! Te quero! Você me faz feliz!
Te amo! Te espero! É exatamente o que sempre quis
Te amo! Te desejo! Já não quero mais viver sem ti!
Te amo! Me beija! A vida é linda por te ter pra mim!

E seriam milhares de “te amo” e milhares de “saudades”
E seria cafona e brega! Apesar de sincero
Mas não serviria pra você.

Eu poderia usar metáforas
Me esconder atrás de palavras
Buscar outros significados
Mas também acho que tem que ser direto!

Eu pensei em falar da saudade
Que sinto a todo instante
Que me dilacera o dia todo
E que começa quando desgrudas de mim

Tentei contar do desejo de estar sempre perto
De que gritaria gol do Santos se fosse por você
Que por mais maçante que seja qualquer coisa
Não será chato se for com você…

Até poderia falar de como é fácil pensar em “pra sempre”
Que você me faz querer tudo até o último suspiro
Que cada beijo tem a urgência do primeiro e do último

Podia te fazer rir falando das confidentes paredes
Que, felizmente, não nos vêem e nem ouvem…
Onde tentamos ficar tão próximos quanto possível
E estacionamento torna-se o melhor lugar do mundo!

E eu não consigo, fica tudo pequeno
Fica incompleto, as vezes até bobo mesmo

Um poema pra você deveria ser enorme
Pra caber tudo que penso e que sinto
Por isso um poema pra você é impossível
Não cabe em folhas, não cabe em palavras

Só cabe nos nossos beijos…
e na nossa própria eternidade
Será que se eu disser só “Eu te amo” já basta?

Alguém que se perde facilmente entre cerveja, noites, amores, sexo, shows, músicas, letras, palavras, motos, asfalto, montanhas, amigos e nunca acha que é muito o muito pouco que viveu!

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Acervo público Metropolitan Museum of Arts, créditos: