Hélio Oiticica beija minha mão esquerda enquanto eu tento esconder opiáceos dos guardas e malandros dessa rua antiga e sem dono. Me escondo nos paralelos invisíveis da tua língua morta sem tradutores e dicionários. […]
Crise
Sem cor, Sem sono
Com dor, Com fome
Sem flor, No abandono
Sem medo, só pavor
Sem carne, só mato
Com arma, me mato
Sem certeza, na merda
Sem eira, sem trégua
Sem crises já não sei mais, me apego nelas
Com descaramento descabido, urgindo e bradando
Ninguém me olha mais nos olhos, nem quero encará-los
Nem estou mais na escola, para poder ignorá-los
A vida, um segundo
A morte, meu mundo
Um grito, um surdo
O amor, um absurdo
A gente, nem sei
Há gente? não vejo
Sem pensar, não vivi
E sem olhar já desejo
Mendigando carinho, mas chorando sozinho
Malevolência de vilão, urgência por um “não”
Clemência fingida, nem morte nem vida
Soluços no escuro, silêncio profundo