Hélio Oiticica beija minha mão esquerda enquanto eu tento esconder opiáceos dos guardas e malandros dessa rua antiga e sem dono. Me escondo nos paralelos invisíveis da tua língua morta sem tradutores e dicionários. […]
Uma piñata feita com uma mochila Rappi

Uma piñata feita com uma mochila Rappi.
A ideia não é minha, uma pena.
Achei deliciosa e triste.
O que será que leva dentro?
Entrega o lanche putrefado da história dos nossos dias de delírio?
O mundo 4.0. A internet das coisas que colocaram na nossa cabeça.
Estas ideias que não são tuas, nem minhas.
Uma piñata feita com a mochila do Rappi.
Essa ideia não é minha, nem tua.
Entrega em 24 horas.
Carteira de trabalho verde amarela.
Agora você deve agradecer
pra ter um lugar pra por teu nome.
Essa energia está mim, está em você.
Uma piñata feita com uma mochila Rappi
Eu daria dois duros golpes, amarraria no poste,
ou usaria uma navalha pra acabar logo com isso. [não fuja pra Alemanha, caro deputado]
Uma piñata que leva na sua carne o mundo moderno,
pós-verdade, tudo corre livre [até tuas ideias sujas e antiquadas.]
As crianças já se agitam.
O que será que leva dentro?
O suor triste do operário?
O sorriso torto de uma alegoria
delicadamente programada pra apanhar & morrer.
Votar 38, lustrar uma .40, adorar um Deus
É muito fácil ser valente,
amontoar opiniões & cultivar estas ideias ultrapassadas.
Quando os mais frágeis estão delicadamente
expostos & aprisionados
para apanhar & morrer.
Imagem: Roberto Parizotti/Fotos Publicas